Por estes dias, atarefado entre coisas que não se podem adiar, perguntaram-me em que dia deixei eu de acreditar no amor.
Curiosa pergunta esta.
Implicada de curiosidade e de pena a jovem deitada e nua, achou por bem fazer uma pergunta desta largura quando o meu corpo já pedia para me sair de cá de dentro e ir embora.
Quem se julgam as pessoas que acreditam no amor?
Quem lhes deu o direito de ter pena de quem não “O” conhece?
Embrulhei-me ainda mais nas coisas que não se podem adiar.
Comprar cigarros, manteiga, uma lâmpada, e uma garrafa de scotch porque não ando em tempos que querer ficar sozinho.
Ela, pulando da jovialidade de todos os direitos, pensava que a intimidade era um sexo brando, feito para durar apenas o tempo que se merece.
A pobre!
Como sempre nada respondi.
Escondi as palavras atrás de um esgar trocista e levantei-me da cama ainda empapada em dois corpos.
Detesto falar de amor depois do sexo.
Dá-me vontade de desaparecer.
Houve tempos em que adormecia, pensava-me apaixonado, hoje já não chega, tenho mesmo de desaparecer.
“Telefonas a perguntar se podes passar por cá, dizes-me boa tarde, entras dentro de mim e depois desapareces sem responder a uma simples pergunta.
Pergunto-me se alguma vez aqui estiveste?!”
Acho piada à impertinência.
Nada do que me diz me faz mudar de opinião, mas diverte-me esta forma de estar que faz depender de uma resposta, todo um futuro… crê que existe um futuro.
E eu preocupado com as horas a que fecha o supermercado e a tabacaria da esquina.
Porque não se preocupa ela em não fantasiar tanto.
Era muito mais simples.
Para quê trazer o amor para a cama em que só queremos o prazer.
“Tens medo ou não sabes?”
Tentou aliviar-me o sacrifício enquanto uma após outra, eu vestia as peças de roupa que uma hora antes estorvavam.
E eu a pensar que as horas tinham passado rápido demais.
Podia prescindir da manteiga, até da luz, mas depois de tudo isto necessitava mesmo dos cigarros e da garrafa“Custa-te tanto assim responder?”
Sei que a deixei sentada no seu trono, meio surpresa pela falta de sons.
“Pelo menos dorme comigo!”
E saí!
Há muito tempo que não tinha assim uma frase tão bonita para começar um texto.
“Pelo menos dorme comigo!”.
Quinze dias depois encontrei-a no corredor onde nos vimos pela primeira vez.
Falou-me como se nada se tivesse passado, entre dentes sussurrou-me que tinha mandado o marido embora, se eu quisesse passar por lá…
Ela percebeu que não se leva o amor para a cama onde se faz sexo, e se dorme!
Este texto foi escrito por VITOR (aqui)
Faz bem passar por ESSE LADO ONDE ESCREVES
Há 1 semana
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