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- Lá estás tu…Já não me queres beijar? Os beijos não são contagiosos.
- Pois não. Agora o resto…creio que não tenho preservativos. Chatisse! Estás a ver, não ando sempre preparado para as ocasiões.
- Não gosto de te ouvir falar assim.
- Não sei o que tenho Madalena. Decepção?
Depois fita-a, como se de repente fosse perdê-la, a engolir a palavra indesculpável, e deita-a sobre o leito imenso, nem afasta a colcha, que é também pesada. Desaperta botões, puxa-lhe a camisola de caxemira pela cabeça, quase lhe rebenta os atilhos do soutien, até expor às luzes veladas do quarto os seus mamilos erectos, as axilas escuras de tentadora, toda a morna solidão da sua pele. Até lhe tocar, com os dedos a tremerem, o sexo húmido de orvalho.
- Pára, por favor.
- Não sei se consigo, Madalena.
- Beija-me o umbigo, aí onde tenho o sinal da maldade.
Apertam-se, largam-se, despem-se completamente, quase ao desafio, tornam a beijar-se, lânguidos, saboreando-se, brincam, beliscam-se, lambem-se, a lua roça-se pelos canaviais, o sangue da paixão bate-lhes nas veias, rega as mãos com que eles já se possuem, talvez chame alucinações ou se misture aos lírios da pureza quando eles sorriem.
É em delírio, como num sonho mau, mas onde o mal é o bem e o bem é o mal, quando António se arqueia sobre ela, qual a estaca vermelha se enterra não na boca, como previsto, mas na obscura flor do ventre de Madalena.
O orgulho dela – loucura divina – dissipe-se quando os lábios comovidos de ambos se unem sobre o ardor da batalha.
Urbano Tavares Rodrigues
Estação Dourada
Há 1 semana
4 comentários:
Paulo
Belo texto, bem ilustrado.
Há instantes assim, mágicos!
Beijos
As fotos são magníficas, mas neste post o que gostei mais foi mesmo o texto... Desejos carnais, que se querem reprimir, mas para quê? É impossível fazê-lo quando o desejo tem tal dimensão, tal potência de nos levar à loucura.
Beijocas, e tens um desafio no meu blog ;) :P
Batalha???
Que delìcia de texto! Vou incluir este livro na minha 'carta ao Pai Natal'... ;-)
Beijoca!
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