"Atirei-me então a seus pés, abraçando-a pela cintura contra o peito, num frenesi furioso:
- Perdoa-me! Perdoa-me...
- Deixa-me - gemeu ela rompendo, finalmente, em soluços.
- Por causa disto! por causa disto! - repetia eu rasgando o seu vestido com as unhas e os dentes. E ao mesmo tempo a esmagava contra mim, a sacudia como querendo embalá-la, cobria de beijos esse mesmo vestido, e lhe levantava a cabeça para lhe sugar a boca ou beber as lágrimas nos olhos.
- Deixa-me... - continuava ela a gemer, quase nua nos meus braços.
E de vez em quando: - Isto não tem jeito! Temos de acabar com isto!
Mas não sabia defender-se. Parecendo-me então, que os meus transportes poderiam aterrá-la, comecei a falar-lhe mais brandamente, a deitar as culpas sobre mim, a prometer-lhe um futuro completamente diverso, convencido, na verdade, de me ser possível tratá-la de aí em diante como ela deveria ser tratada, como uma criança que era preciso proteger, - tudo no meio de carícias agora extremamente demoradas, voluptuosas, instintivamente requintadas...
E nessa noite, o nosso delírio ultrapassou o das nossas primeiras noites de amor.
Nunca o meu prazer fora tão profundo; e eu bem sentia que o dela igualava o meu.»
José Régio - O vestido cor de fogo
Há 1 semana
6 comentários:
...
Lindo.
:)
Perfeito texto.
Paulo,
Saabias que o José Régio tinha "pavor" de mulheres?...
Há quem diga até, que ele morreu... virgem.
É incontestável a sua escrita, em ensaios , romance ou poesia, mas é curioso como ele escreveu tão bem sobre dois assuntos que "detestava": As mulheres e Deus. Aliás, a maior colecção particular de Cristos era, até há pouco tempo, ainda dele!
Um gandabraço.
> tretoso,
Não sabia não, por acaso há já uns anos estive a visitar a casa dele em Portalegre, li algumas coisas, sei que o nome dele não é Régio, é Reis Pereira, sei que nasceu e morreu em Vila do Conde mas essa das mulheres… eu nem imaginava.
suspiro...
> iani, cris..., missang,
:) ...
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