quinta-feira, 25 de março de 2010

UM POST SEM CERTEZAS . . . ! (re-edit)

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Dr. Mário Cordeiro, pediatra, disse que muitas birras e até problemas mais graves poderiam ser evitados se os pais conseguissem largar tudo quando chegam a casa para se dedicarem inteiramente aos seus filhos durante dez minutos.

Ao fim do dia os filhos têm tantas saudades dos pais e têm uma expectativa tão grande em relação ao momento do encontro em casa que, se o pai ou/e a mãe tivessem consciência disto bastava chegar, largar a pasta e o telemóvel e ficar exclusivamente disponível para eles, para os saciar. Passados dez minutos eles próprios deixam os pais naturalmente e voltam para as suas brincadeiras. Estes dez minutos de atenção exclusiva servem para os tranquilizar, para eles sentirem que os pais também morrem de saudades deles e que são uma prioridade absoluta na sua vida. Claro que os dez minutos podem ser estendidos ou até encurtados conforme as circunstâncias do momento ou de cada dia. A ideia é que haja um tempo suficiente e de grande qualidade para estar com os filhos e dedicar-lhes toda a atenção.

Todos os pais sabem por experiência própria que o cansaço do fim de dia, os nervos e stress acumulados e ainda a falta de atenção ou disponibilidade para estar com os filhos, dão origem a uma espiral negativa de sentimentos, impaciências e birras, a criança apenas tenta chamar a atenção da pior forma, mas é a forma que sabe. Para além de tudo isto, e que é o mais importante, é bom não perder de vista os timings e perceber que está nas nossas mãos fazer o tempo correr a nosso favor.

Sou pai há apenas 6 anos e ainda me confronto (se é que algum dia vou deixar de me confrontar…) com as dúvidas diárias sobre o que fará a diferença para que o meu Lontrinho, hoje criança, se torne um Bom adolescente e depois um Bom adulto.

O que deveria fazer com ele, o que lhe deveria ensinar para que se torne equilibrado e feliz?
Quais os valores e os exemplos de vida a dar-lhe de forma a utilizar bem o tempo que tenho com ele?

Posso e utilizo muito do que recebi dos meus pais, mas o mundo está diferente, evoluiu, para melhor e para pior, logo, também os temas e os métodos terão que ser diferentes.

Já falei por aqui que alguém disse, “o pior que se pode fazer a uma criança é não lhe dar amor, a segunda coisa pior é não lhe dar disciplina”.
Sendo assim, e porque, obviamente lhe dou muito amor, preocupe-me em saber utilizar bem a palavra NÃO, e que ele a entenda.

Também me preocupo em ensinar-lhe as regras, regras que delimitam o seu espaço, “moldura” do quadro, campo de liberdade dentro do qual ele pode ser um filho livre, criativo e até mágico, onde deve ser elogiado e incentivado nos seus pontos fortes mais do que criticado, ganhando a carapaça de auto-confiança e auto-estima.
Dentro desse espaço, quero que ele acredite que vai atingir o que quer, brevemente definirá Objectivos para a vida e aprenderá a criar as estratégias para lá chegar.
Saberá que os seus Objectivos dependem dos seus Valores e do seu Propósito de vida, será ele a defini-los.

Tento desde já desafia-lo, dar-lhe a iniciativa, fazê-lo tomar decisões, mesmo quando sei que o caminho escolhido não o leva à saída do labirinto, mas pode sempre voltar atrás e escolher um caminho novo.
Ensiná-lo que a responsabilidade das escolhas desses caminhos e das suas consequências será sempre dele.

Agora, com 6 anos, outras aventuras estão a aparecer e outros desafios tenho à minha frente.

Penso muito como o devo ensinar a pensar.
Já aqui escrevi que quando ele me faz as famosas perguntas dos miúdos da idade dele, afectos, sexo, dinheiro…, sempre lhe devolvo a pergunta, “o que achas, qual é a tua opinião?”, sim, é mais cómodo para mim, mas também me dá, tal GPS, o “seu ponto de conhecimento”, tantas vezes a resposta dele à sua pergunta está próxima da resposta que eu lhe daria, aí, dou-lhe um pouco mais de conhecimento, fica a saber um pouco mais, por outro lado, se a resposta dele ainda está no campo “das cegonhas de Paris” ou de outras fantasias, alimento a fantasia, sem tanta imaginação como a dele confesso, mas um dia, a resposta “séria” será dada, por mim ou por ele mesmo.

Devo ensinar-lhe,
O que é o dinheiro?
Para que serve?
Como aparece?
E, especialmente, fazê-lo sentir que é um bem LIMITADO, muito limitado.
Dar-lhe trabalho e recompensa-lo.

Agora, começa a surpreender-me com o que conhece do mundo, do meio social e físico onde vive, começa a ganhar a noção de respeito pelo meio e pelos outros.
O que é que ele pode fazer no campo da dádiva, da contribuição social ? Aqui, confesso que está à minha frente em alguns temas, a reciclagem do lixo é uma delas.

E porque mente limpa só em corpo limpo, ensiná-lo a conservar e formar um corpo com qualidade, a alimentação, a actividade física, a mente sã.
Ensino-o a jogar COM alguém e esforçar-se e dar tudo para derrotar esse alguém no jogo, mas também lhe explico que deve evitar jogar CONTRA alguém.

E porque acredito que deixar aos filhos dinheiro ou valores imobiliários NÃO é uma grande ajuda para FORMAR uma pessoa Boa, parece que não tenho tempo a perder e tenho mesmo que pensar nestes assuntos, de uma forma responsável, mas também com muita alegria, felicidade e agradecimento pelo facto de ter o filho que tenho.

E porque me apeteceu escrever o que escrevi, aqui está o post de hoje.

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25 comentários:

Maria disse...

Tenho para mim, que se usares a tua intuição, o teu amor, a tua paciência, a tua forma de ser, essas "sem certezas" não passam deste texto! :) mas isso posso ser só eu que acredito em ti. beijinho

Ana disse...

És um bom pai, paulo. :) E o teu rapaz parece ser um óptimo miúdo. è normal que saiba mais de reciclagem porque hoje em dia aprendem logo os três rrr, coisa que no "nosso tempo" nem se falava sequer.

Ana disse...

Engraçado que já sei reconhece-lo no meio de outras fotos de mocitos :)

Paula disse...

penso nisso todos os dias em relação à minha filha...se lhe dou suficiente atenção, se não lhe dou, se me irrito ou se lhe dou miminhos cheios de risos pelo meio..se lhe digo vezes suficientes que a amo e adoro e que ela é o amor da minha vida, que foram coisas que nunca ouvi, antes pelo contrário e vou tentando neste caso fazer diferente do que tive...
mas às vezes sinto que não é suficiente e que tenho de ser melhor e fazer melhor...por ela e por mim e pelo nosso futuro como mãe e filha.
:)
bjs Paulo e OBRIGADA!

Rui disse...

Estás a propor-te entender bem e pôr em prática o objectivo nº1 da vida de um pai !
Sempre disse e mantenho que é “a coisa mais difícil” da nossa existência.
Tudo o resto é secundário.
As tuas dúvidas foram e continuam a ser as minhas dúvidas e quão difíceis são de pôr em prática e fundamentalmente, de que das nossas práticas resultem os nossos objectivos.
Cada um poderá, em função de muitas circunstâncias, actuar de modo diferente com a mesma finalidade.
..................................
Àparte o fundamental do post, o início fez-me lembrar aquela estória do miúdo que pretendeu saber por todos os meios qual era o salário horário do pai.
Para quê ?... para juntar o dinheiro necessário para lhe propôr pagar-lhe a sua companhia durante esses 10 minutos diários que, pensava ele, o pai pudesse perder ao faltar ao trabalho esse tempo.
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Pax disse...

Tens um filhote lindo, fantástico e não duvido que uma grande parte disso seja responsabilidade do pai (e mãe, claro) que ele tem a sorte de ter!

Gostei do post, ainda bem que te apeteceu escrever o que escreveste! :)

Valquíria Vasconcelos disse...

DA-lhe Amor! Da-lhe tudo com grandes doses de amor.

Convivo diariamente com gente que não tem amor. Sabes como compensam? São mal-educados, irreverentes, rebeldes, fazem de tudo para chamarem à atenção dessa base que lhes falta. Drogam-se. Mutilam-se. Batem-se. Batem-nos se for preciso.

Afastam-se da sociedade. Vivem no submundo do roubo, da mentira, da maldade.

E isto, meu amigo, não é de todo, o futuro da humanidade.

Se todos dessem amor às suas crianças o mundo teria apenas maçãs saudáveis.

Sabes o que faz uma única maçã podre, numa fruteira? Pois...

Eu não tenho filhos, tenho duas criaturas cá em casa que se dão bem com os seus semelhantes, com os cães e com todas as pessoas. Nunca, por nunca, tiveram um gesto de maldade. Nem mesmo por instinto. E o segredo está nisso: Amor e Carinho!

Beijinhos

Ana disse...

Sim, como disse a pax, ainda bem que te apeteceu e que escreveste o que te apeteceu. :) temos muito a aprender uns com os outros, é pena que nem todos o queiram fazer.

cantinhodacasa disse...

E porque te apeteceu escrever o que escreveste, aqui está um post simples, objectivo, orientador, reflexivo, responsável e cheio de amor.
Todo ele está muito bom, mas gostei, sinceramente de: "Ao fim do dia os filhos têm tantas saudades dos pais e têm uma expectativa tão grande em relação ao momento do encontro em casa que, se o pai ou/e a mãe tivessem consciência disto bastava chegar, largar a pasta e o telemóvel e ficar exclusivamente disponível para eles, para os saciar. Passados dez minutos eles próprios deixam os pais naturalmente e voltam para as suas brincadeiras. Estes dez minutos de atenção exclusiva servem para os tranquilizar, para eles sentirem que os pais também morrem de saudades deles e que são uma prioridade absoluta na sua vida".

Não comento mais nada porque sabes o que penso.
Beijinho.

Ah! As fotos estão deliciosas.

made in ♥ love disse...

e eu tenho a certeza que darás sempre o teu melhor...

Um beijinho
Eduarda
Be in ♥ love

bono_poetry disse...

sao sempre interessantes os teus posts,eu deixo de certa forma a quem de direito como tu e outros milhoes de pais a simples certeza de nao saberem o que esta sempre certo,eu leio este depoimento e so posso declara-lo em absoluto uma verdade sem contestacao,mas nao sou pai e dai nao entender como teria eu apenas dez minutos por dia para a pessoa mais importante do mundo ,eu diria que sem saber do vosso conforto,jamais dez minutos chegariam para mim,digo isto e depois veem as desculpas da falta de tempo,dos horarios acumulados,das obrigacoes,etc etc etc,come on saiam da tv e do que os ocupa uma hora mais!!well,mas isto e so a minha opiniao!!!

Storyteller disse...

«Serei boa/bom mãe/pai?»
Qual de nós nunca se questionou a si próprio sobre a nossa qualidade enquanto seres responsáveis por outros seres?

Quantas vezes me pergunto se estarei a agir da melhor forma para tornar os meus filhos adultos responsáveis e com bom coração? Quantas vezes acho que falhei redondamente no meu papel de mãe? Quantas vezes não pensei eu já em desistir de tudo e emigrar para a Austrália?

Será que digo demasiadas vezes NÃO?

Paulo, garanto-te que essa tua capacidade de te questionares enquanto pai/educador/amigo apenas revela uma coisa: és um pai excelente!

Oásis disse...

Um post claro como água! Não há certezas quanto ao futuro mas sabes o que lhe vais dar e como isso é importante para ele (excelente ideia a de devolver a pergunta, vou começar a fazer isso com o meu pequeno).

Beijos e bom fim de semana!

Vício disse...

antes de tudo (e não sou pai) acho que devemos ser um bom e consciente critico de nós próprios e talvez depois disso estaremos prontos a ensinar algo.

acredito que existe muita gente que acha que está pronto para a paternidade quando apenas se tata dum desejo dos mesmos.

talvez seja raro alguém pensar sobre este assunto da forma que o fazes...

VCosta disse...

Educar é um trabalho árduo mas geralmente compensador!!

Spirit disse...

Ser pai não deve ser fácil, mas este teu post mostra bem que tu és um Bom pai :)

Bom texto, talvez dos melhores que li esta semana. Parabéns! Para além de estar muito bem escrito e ser claro, é também um post útil.

Beijinhos e bom fim-de-semana!

Ah! E vivam os carpaccios ;)

spritof disse...

...e apesar de ser um longo post... gostei muito de o ler!
:)

Guy de Maupassant disse...

Thanks for sharing!

Sara disse...

Tamém tenho um filho desta idade, da minha exp, o AMOR deve estar sempre presente nas nossas acções diàrias, podemos omitir algumas coisas mas nunca mentir...mesmo ao dizermos sim ou não, asumir as consequencias destas palavras e viver o dia a dia...não existe manual que nos ensine a ser pais, são as nossas referencias e as nossa vivencias, queremos fazer o nosso melhor mas nem tudo depende de nós...
Vai fazer agora cerca de dois anos que o meu filho me perguntou: "Porque vais trabalhar no dia de Natal? as outras mães também trabalham?..."
Eu disse a verdade e ele percebeu e deu-me um beijo e um abraço que eu nunca mais vou esquecer....
xauxau

FATifer disse...

Caríssimo amigo,

Mesmo antes de me teres dado o privilégio de fazer parte da tua vida diária por uns dias, já te tinha dito que eras um bom pai. Como muitos acima já te disseram (e concordo) só a capacidade que tens de te questionar já é indicador disso. Não tenho dúvidas que tu e a Lontra saberão guiar o vosso lontrinho para que ele se torne, como dizes, “um Bom adolescente e depois um Bom adulto” porque ambos são excelentes pessoas e isso transmite-se, felizmente! ;)

Não sei se alguma vez vou ter o privilégio de ter de me colocar as questões que te colocas (isto é, se serei pai algum dia) mas uma coisa que sempre achei que quero transmitir: somos responsáveis pelos nossos actos e suas consequências assim que uma criança tenha capacidade de apreender isso tudo o resto vem por acréscimo…

Volto a concordar com o que já disseram, este é um excelente post e a prova que devia escrever mais vezes (assim te apeteça!).

Grande Abraço,
FATifer

forteifeio disse...

Belissimo texto o teu com muitos dos dilemas com que me debato.

cantinhodacasa disse...

As fotos estão deliciosas.
Quanto ao re-editares este post, fizeste muito bem, não só porque está muito bem escrito, mas também porque nos faz relembrar como devemos agir com os nossos filhos.
E eles gostam tanto de atenção e carinho.
Vejo nos meus alunos. Algumas/Alguns gostam de abraços e que os escutem.
Bom fim de semana e beijinho.

Tia Complicações disse...

O que deres ao Lontrinho em criança em adulto ele retribuirá no dobro a todos os que ama ...... Este é um post com muitas certezas!!!!!!

GiGi disse...

Tenho certeza de que és um pai excelente :-)

João Roque disse...

Paulo
é por causa de tudo o que afirmas aqui, e por mostrares ser um pai a sério, que eu lamento, MUITO, nunca vir a ter um filho; mas há coisas que não se escolhem, e depois temos que seguir a via que é a nossa com todas as suas consequências...