.
Um destes dias, um blog de visita diária fez-me recordar a minha infância, especialmente algumas das brincadeiras de rua e alguns amigos daquele tempo, anos 70 em Ermesinde, onde eu morava.
Naquele tempo havia um conceito que hoje em dia não existe, “a minha rua”, a rua era uma propriedade, a rua era nossa, dos que lá moravam.
Jogávamos futebol de rua com outras ruas, fazíamos corridas de bicicleta com outras ruas, era a minha rua com a outra rua (curioso como hoje até no desporto se diz o meu clube contra o outro, eu prefiro continuar a utilizar a palavra “com”).
Éramos mais de 15 putos numa rua de 100 metros, daquelas com casinhas pequenas e todas iguais construídas nos fins dos anos 60.
Tínhamos também, nessa altura, o momento de “ir brincar”, ir brincar significava ir para a rua jogar à bola ou às escondidas ou fazer corridas de “sameiras” (cápsulas de garrafa de cerveja) que serviam bem de carros de corrida de formula 1 e que deslizavam em pistas feitas na terra dos passeios.
Neste blog que referi, a brincadeira citada era uma que também eu brincava, diga-se de passagem com muito prazer, o nosso grupo, o da minha rua com miúdos entre os 6 e os 9, tocava a uma campainha de uma das vivendas, naqueles tempos faziam trrriin trrriin e não havia videoporteiros. Depois do toque, fugíamos e escondíamo-nos de forma a vermos o dono da casa abrir a porta e não ver ninguém. Repetíamos esta asneirada até o dono da casa deixar de abrir a porta e depois de muita gargalhada. Aquela brincadeira era muito comum naquele tempo e divertidíssima.
Lembro-me especialmente de duas coisas, a primeira era que adorava “jogar” ao anoitecer, naquele tempo podíamos brincar na rua, não passavam carros e não havia medos. A segunda coisa que me lembro é mais mórbida, um dos nossos amigos era o Toní, o “Xicla Manca”, rapaz da minha idade que tinha tido poliomielite e tinha a perna “manca” e com aquele aparelho de ferro que existia dantes para manter a perna na vertical. Jogávamos o jogo das campainhas com ele por perto, o rapaz era a vítima, era sempre apanhado pelo dono da casa pois não conseguia correr… nós, já escondidos, ficávamos às gargalhadas a vê-lo a justificar ao dono da casa que não tinha sido ele.
O Toní era um miúdo fantástico e ainda hoje é um amigo, ele nunca se chibou, nunca contou quem tocava à campainha, naquele tempo a amizade tinha um valor que talvez já não tenha hoje.
O Toní provavelmente não lê blogues e é um grande homem.
.
Há 5 dias
11 comentários:
Como mudaram as infâncias.... tanto que se perdeu....
Gostei muito do post fez lembrar minha infância, brinquei também de tocar a companhia e de pique pega... gostava muito de subir em árvore, bem ainda gosto... tudo muito bom.
E eram tão puras essas brincadeiras; mesmo o tocar das campainhas era tão "saudável"...
Sabe bem e faz bem recordar os velhos amigos ! :))
O Tony era um rapaz humilde, mas "subiu na vida" !
Há pouco tempo tinha uma papelaria/livraria num bom local.
Soube há dias que ia encerrá-la por dificuldades no negócio. Fiquei triste !
.
Que saudades de te ler amigo. Sim eu gosto das fotos que aqui colocas, dos textos que decides citar e partilhar connosco mas do que mais gosto é de te ler assim como neste texto.
Não posso dizer que tenhas memórias similares pois nasci numa cidade grande num tempo em que brincar na rua já não era assim tão pacífico (mais carros, mais confusão). No entanto tenho as memórias de ir brincar para o jardim com os amigos, jogar à bola, às escondidas, etc…
Grande abraço,
FATifer
Gostei muito deste texto Paulo. Podia ter sido eu escreve-lo! As recordações de uma infância feliz e muito saudável emocionaram-me e, por isso, te agradeço a partilha... Continua! Zé
Eterna infância. Eu tive-a também com os meus irmãos e amigos da rua. E brincávamos até às 11 horas da noite.
Bela infância a tua. Gostei muito de te ler e do carinho com que "falaste" do teu amigo Toni...que não lê blogues.
Quanto às fotos, são muito expressivas, mas a penúltima...
Beijinho
Em grande Paulo, desconhecia o blog. Fiquei emocionado, fizeste-me reviver tempos magnificos, em que a minha preocupação era levantar-me cedo para ser eu a fazer a pista das sameirinhas no passeio junto à quinta do XIXA. Eu sou da tua rua.Um abraço. TO
Outros tempos, grandes dias, grandes amizades, umas mantêm-se outras vão-se redescobrindo.
Eu também sou tua rua!
Forte abraço
Luis
Apesar de ser + velho , a verdade è que o saudosismo desses tempos è-me altamente emocional ! ! !
Haviam algo " no ar " que jà nao existe !
Sim , se fechar os olhos " e me deixar levar " atraves dos tempos , parece que foi ontem que " a Linda Aurora foi jogar + um jogo de futebol contra Herois de Chaimite" e por ai fora !
Um Abraço , e Obrigado Paulo , pela maneira LINDA com que nos lembras-te a Linda Aurora e o TONI!
tot ziens
jorge martins
Muito interessante encontrar aqui, num só post, tantos antigos vizinhos ! :))
Um abraço meu para todos !
.
Enviar um comentário