sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

DESPONTANDO PARA O MUNDO...






A menina abriu os olhos de repente, quase num susto.
Ficou ainda um tempo sem se mover, imaginando o que fizera até ali... as amizades e brincadeiras, o quanto sorriu, o quanto chorou... um risinho escapou-lhe memorizando bons momentos, de banho de mangueira, de brincar com bonecas, das tranças caindo-lhe sobre os ombros, andar descalço pelas ruas do descompromisso...
Sentou-se lentamente, enquanto lágrimas brotavam dos seus olhos... pensamentos sobre as perdas que teve, os erros que cometeu e pelos quais foi castigada.
Os dias chuvosos que a obrigaram a ficar trancada... os dias cinzentos que lhe pareceram feios quadros dependurados na parede de suas memórias... os dias de frio em que se sentia obrigada à reclusão.
A tristeza tomou seu coração e ela ficou a pensar se valia mesmo a pena levantar-se naquele dia.
As lágrimas corriam livremente pelo seu rosto, assim como outrora ela mesma correra pelos campos da sua inocência.
Porquê, às vezes, o mundo parecia tão ruim?
Porquê as pessoas pareciam tão confusas e malucas indo e vindo como num ballet alucinado?
Sentia medo, medo muito medo... o que será que aquele dia lhe reservaria?
Mas, de repente percebeu, o que a mantivera acomodada na sua confortável cama foram as delícias memoráveis que vivera e que, naquele momento, a lembrança amarga dos espinhos que perfuraram seus delicados pés, faziam-na temer o porvir...
Mais um risinho, este de convicção.

A menina levantou-se de um salto e corajosamente abriu a portada da janela.
Como um presente escondido, encontrara um dia ensolarado, com pássaros e borboletas, havia perfume de flores e tantas cores... nem mesmo o cinzento frio dos arranha-céus destoavam da paisagem, o burburinho de gente falando, carros passando, música ao longe.
Cheia da alegria e confiança que só tem quem se conhece, ela saiu rapidamente e abriu as portas que a levariam ao mundo.
Na janela não estava já uma menina.
Naquela manhã, uma mulher despontava para o mundo...



tema: dias

10 comentários:

FATifer disse...

Excelente texto e fotos a condizer.

Foi um prazer passar por aqui…

Parabéns,
FATifer

Paulo Lontro disse...

Não terá sido um prazer maior daquele que eu sinto quando passo nos teus textos e no teu espaço partilhado com a querida Pax.
Sê bem-vindo, aparece sempre.

Lize disse...

Sem dúvida, fotos bem a condizer :) Gostei ;)


Beijocas

Missanguita disse...

Afinal o texto lá apareceu.... ;)

Eu disse...

Boa noite Paulo,
é a primeira vez que visito o seu espaço mas gostei muito, é agradável, bonito.
Este "despontando para o mundo" pode ser para qualquer pessoa que se encontra em fase de transição, da adolescência para o mundo dos adultos.
Gostei, muito bonito mesmo.
Aproveito para informá-lo que no meu blogue há um tango à sua espera.
Beijinho

Paulo Lontro disse...

Olá Marta
Sê bem-vinda por aqui.
Já passei e ouvi o Tango, sou um ouvinte constante de Piazzolla.

Ana Camarra disse...

Paulo

As meninas tem esses rodopios passam a mulheres assim!
Está muito bem!

Beijo

TM disse...

Gostei do texto.... muito....

Ricardo disse...

O problema é o medo que temos do risco, do desconhecido...
Mas para hoje sermos quem somos, os nossos pais também tiveram que arriscar e abdicar de muita coisa!

Abraço

Rui Silva disse...

Passar do temor para o deslumbramento tendo como base as recordações.Nem é preciso musica,as fotos dizem tudo.