Há 4 dias
sexta-feira, 17 de abril de 2009
OH,... FAZ FAVOR... VOU DEVOLVER AINDA ESTÁ DENTRO DO PRAZO DE VALIDADE...!!!
(sim, há fotografias que custam bem mais a ver mas na vida não é tudo bonito, pois não?)
A devolução de crianças e adolescentes pelas famílias que as adoptam é uma realidade mais comum do que se pensa, embora a adopção seja, penso eu, um procedimento irrevogável perante a Justiça.
Algumas dezenas foram devolvidas nos últimos 4 anos, fala-se em 70 ou 80 crianças.
O número é chocante mas bastaria apenas uma para me deixar preocupado.
Os profissionais envolvidos no processo de adopção têm de identificar nos candidatos a pais alguns factores de risco que sinalizem a possibilidade de ocorrer uma futura devolução estes números têm de baixar imediatamente, evidentemente não passa pela cabeça de ninguém forçar os pais adoptivos a ficarem com a criança sem o total empenho e vontade.
Não levanto juízos de valor sobre os pais e os seus motivos, certamente existem, nem sobre os técnicos e as suas competências, mas quando me deparo com esta situação indiferente também não consigo ficar.
Há técnicos que levantam pelo menos 2 hipóteses para o desencadear deste drama.
A primeira é a dificuldade de os pais inserirem no próprio imaginário a criança adoptada na condição de filho.
A segunda é a “fantasia da devolução” isto é: só podemos devolver aquilo que não nos pertence.
No caso de um filho biológico é como se a criança 'pertencesse' aos pais. Então, ela não pode ser 'devolvida', mas sim abandonada.
O mesmo não ocorre com uma criança adoptada, pois ela poderá ser devolvida ou para a família biológica ou para a tutela do Estado.
É difícil imaginar o sentimento de perda de uma criança que de novo se vê sozinha e em alguns casos, ainda mais grave, crianças que são abandonadas pela segunda ou terceira vez.
Várias vezes evoquei aqui a seguinte fábula;
Era uma vez um Beija-Flor que fugia de um incêndio juntamente com todos os animais de uma floresta.
Só que o Beija-Flor fazia uma coisa diferente: apanhava gotas de água de um lago e atirava-as para o fogo.
Um outro animal, intrigado, perguntou:
- "Beija-Flor, achas que vais apagar o incêndio com estas gotas?"
- "Com certeza que não", respondeu o Beija-Flor , "mas estou a fazer a minha parte".
Pois é, se o Lontrices serve tantas vezes para brincar também deverá servir para apagar incêndios nem que seja numa ínfima parte.
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9 comentários:
Paulo... nem mais!
Vi isso na tv ontem e também me chocou. Não imagino o que seja para uma criança sentir-se assim rejeitada, uma vez depois da outra.
O que me parece é que esses pais estão um pouco iludidos. A ilusão da facilidade e do filho perfeito. Ninguém é perfeito. E se as crianças têm problemas de adaptação, tem de se trabalhar e não desistir. Acho o que falta é mostrar aos adoptantes que aquela criança que vão adoptar é uma criança como as outras... vai fazer asneiras, vai chorar de noite, vai ficar doente, vai ser mal-educada, vai testar os limites dos adultos... tal qual qualquer outra criança.
Eu sempre disse que quero muito ser mãe. Sempre disse que vou ser mãe, aconteça o que acontecer. Não sou daquelas pessoas dispostas a tudo para engravidarem, e por mais que ache que partilhar o crescimento de uma criança com um companheiro deve ser um máximo, também não faço questão disso. Faço questão de ser mãe, mas não faço questão de engravidar.
Podes vir a cobrar-me isto, mas se em meia dúzia de anos eu não tiver encontrado um companheiro, adopto uma criança e vou ser mãe. Solteira, mas mãe. :) e, não quero um bebé, mas um miúdo mais velho.
Obrigada.
Beijos
(só quem não te conheça, nem ao Lontrices se poderá espantar com este post. Incrível e fantástica sensibilidade. Adorei!)
tive pena de não ter visto... post muito bom!! Espantadíssima sr. Paulo! E já agora que aqui passo...aviso-te já que tenho um desafio para ti no meu blog! :)
Paulo
Essa é uma face do drama, mas não termina por aí:
Tens crianças vitimas e crianças agressoras dentro das mesmas instituições com onsequências várias.
Tens crianças que vivem felizes e equilibradas numa familia de acolhimento (que as pretendem adoptar) durante vários anos e depois são entregues novamente á familia biológica. Podia relatar-te casos de crianças de 4 anos queimadas de propósito com água a ferver, abusadas sexualmente, deixadas sós, dias e noites a fio...
Tens casais que aguardam 10 anos por uma adopção.
Tens casos identificados de crianças em risco, referenciados apresentados perante as autoridades competentes e que nunca são acompanhados, crescem para se tornarem, infelizmente, muitas vezes em modelos daquilo que sempre assistiram.
Tu és pai, eu sou mãe, ainda o Verão passado no Progrma de Ocupação de Tempos Livres que faço anualmente, uma menina era deixada lá até para além das 19h00, note-se que a actividade acabava ás 12h00, a Autarquia encerra ás 18h00...
Estás mesmo a ver quem lhe dava almoço, telefona mil e uma vez para os país, até que recebi uma resposta desagradavél do progenitor, que a menina (8 anos)podia esperar na rua se eu não a quisesse aturar...
Beijos
E pensar que os processos de adopção são tão dificeis e demorados...
Há aqueles que conseguem "fazer" filhos e deveriam ser ESTEREIS mas infelizmente (na minha opinião) não são!
Aqueles que querem e são capazes de ser pais e tudo está contra eles (as) por motivos vários.
Tenho uma amiga que de tão desesperada (já que em Ptg e Esp é tão dificil) procura uma criança para adoptar no estrangeiro, tem tido desilusões umas atrás das outras.
Estas "coisas" das devoluções... só mesmo como anedota porque no mundo real DOI como TUDO.
Não me tinha passado pela cabeça essa...porra que dói!
Olá, Paulo.
Puseste-me com a lagrimita no olho.
Não vi o programa, mas quero dizer que perante o que li aqui, imagino como teria sido.
Lamentável o que se passa na sociedade.
Os extremos: ou se quer adpotar e fica-se anos à espera, ou se adopta, enchem-se delas e devolvem-nas.
Custa muito ler/ver/escutar isto.
A sociedade está perdida nos seus valores.
Gosto do Beija-flor.
Gostei da fábula que escreveste.
E acrescento que,ainda há pouco comentei um post sobre o individualismo do ser humano, os animais sejam eles de que espécie for, estão a dar um belo exemplo de harmonia, solidariedade, e amor, protegendo-se, acarinhando-se.
Tenho recebido e-mails interessantes que chocam as pessoas mais sensíveis, no que se refere á solidadariedade entre estas espécies.
Paulo , gosto muito do que editas, independentemente do assunto.
Porque tens um coração nobre.
Beijinho
P.S.: As fotos magoam, mas será que as pessoas entendem-nas?
Paulo, tive a liberdade de enviar uns e-mails sobre o que comentei neste post: os animais.
Provavelmente já conheces, mas não é de mais rever.
Apareço no teu correio electrónico co o MA (Maria Araújo)
Beijinho
Foi bom passar por aqui e ver que afinal este problema tem importância para mais pessoas.
A mim preocupa-me e muito, pois essas crianças não têm ninguém neste mundo para as defender e aconchegar. E o que podemos nós fazer? Impotência é aquela sensação que um dia ainda me vai levar à loucura.
"Mudar o mundo pessoa a pessoa", é o lema (de uma ONG) que me faz pensar que é mais possível do que ridículo atirar gotinhas de água para um incèndio.
Gostei de aqui estar.
é banal! muitas vezes quem deseja uma criança consigo não sabe sequer como tratar de si!
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