quinta-feira, 28 de maio de 2009

O TONÍ DA MINHA RUA










Um destes dias um blog de visita diária fez-me recordar a minha infância e especialmente algumas das brincadeiras de rua e alguns amigos daquele tempo, anos 70 em Ermesinde onde eu morava.
Naquele tempo havia um conceito que hoje em dia não existe é o “a minha rua” a rua era uma propriedade, a rua era nossa, dos que lá moravam.

Jogávamos futebol de rua com outras ruas, fazíamos corridas de bicicleta com outras ruas, era a minha rua com a outra rua (curioso como hoje até no desporto se diz o meu clube contra o outro, eu prefiro continuar a utilizar a palavra “com”)
Éramos mais de 15 putos numa rua de 100 metros, daquelas com casinhas pequenas e todas iguais construídas nos fins dos anos 60.

Tínhamos também, nessa altura, o momento de “ir brincar” e ir brincar significava ir para a rua jogar à bola ou às escondidas ou fazer corridas de “sameiras” (cápsulas de garrafa de cerveja) que serviam bem de carros de corrida de formula 1 que deslizavam em pistas feitas na terra dos passeios.

Neste blog que referi, a brincadeira citada era uma que também eu brincava, diga-se de passagem com muito prazer, o nosso grupo, o da minha rua com miúdos entre os 6 e os 9, tocava a uma campainha de uma das vivendas, naqueles tempos faziam trrriin trrriin e não existiam videoporteiros, depois fugíamos e escondíamo-nos de forma a vermos o dono da casa abrir a porta e não ver ninguém. Repetíamos esta asneirada até o dono da casa deixar de abrir a porta e depois de muita gargalhada. Essa brincadeira era muito comum naquele tempo e divertidíssima.
Lembro-me especialmente de duas coisas, a primeira era que adorava “jogar” isso ao anoitecer, naquele tempo podíamos brincar na rua, não passavam carros e não havia medos. A segunda coisa que me lembro é mais mórbida, um dos nossos amigos era o Toní, o “Xicla Manca”, rapaz da minha idade que tinha tido poliomielite e tinha a perna manca e com aquele aparelho de ferro que existia dantes para manter a perna na vertical. Jogávamos o jogo das campainhas com ele por perto e o rapaz era a vítima, era sempre apanhado pelo dono da casa pois não conseguia correr… nós, já escondidos, ficávamos às gargalhadas a vê-lo a justificar ao dono da casa que não tinha sido ele.
O Toní era um miúdo fantástico e ainda hoje é um amigo, ele nunca se chibou, nunca contou quem tocava à campainha, naquele tempo a amizade tinha um valor que talvez já não tenha hoje.
O Toní provavelmente não lê blogues mas é um grande homem.

13 comentários:

cantinhodacasa disse...

Olá. Ao ler este post recordo que ainda ontem, com uma jovem mãe, falei deste assunto.
Apesar de hoje os perigos serem muitos, porque á noite há pouca gente na rua, ela diz que tenta não incutir esses perigos aos filhos.
Gosta que eles brinquem como ela brincou, quando criança.
Eu também brincava na rua, nesta altura de tempo quente, até ás 11 horas da noite e nas férias de Verão até mais tarde.
Era saudável.
Gostaria que, hoje, essas brincadeiras fossem possíveis e proporcionadas aos nossos filhos que, mais que o pc, a playstation, é ao ar livre que eles precisam de brincar e conviver.
A sociedade fecha-se.
Gostei deste post.
E as fotos estão lindas.
Um beijinho.

NI disse...

O que já me ri com este post.

Fez-me recordar a infância despreocupada e feliz.

Quando a amizade não era uma palavra vã...

Obrigado pelas memórias.

Beijo

Anónimo disse...

grande post...eram mesmo assim que se passava....outros tempos...infelizmente não voltam mais :D

abração

paula maria disse...

incrével, como o que tu ca estreveste é tão verdade!
beijinho e bom fim de semana :)

paula maria disse...

incrível*
(perdão)
ahh e parabens pelas fotos :)

Ianita disse...

Um Forrest Gump português :)

No Verão passado, num fim de tarde qualquer, saí de casa, de chinelos de quarto e caminhei os 50m que me separam do contentor do lixo. Regressava e reparei que o filho mais velho dos meus vizinhos andava no jardim deles de bicicleta, às voltas porque o jardim é pequeno... e sorri...

A vizinha meteu conversa comigo e eu disse-lhe que olhar para o Rui Pedro me fazia lembrar que não há muito tempo eu andava estrada acima estrada abaixo de bicicleta... com o meu irmão e os vizinhos, pessoal daquela rua e da outra que faz perpendicular. E andávamos nos olivais, um deles onde é agora a casa dela...

Eram outros tempos. A estrada não estava ainda alcatroada. Havia imensos olivais... imensos! Se calhar não eram imensos. Imensa é a minha memória deles.

Cada tempo tem as suas coisas... o meu tempo foi meu. O do Rui Pedro é feito de medo de ir para a estrada... e o meu era feito de andar sempre suja a apanhar grilos e pássaros e a subir às oliveiras e...

Gata2000 disse...

Eu também sempre tive a "minha rua", os meus amigos "lá da rua", lembro-me que era a única rapariga, mas nem por isso era olhada de forma diferente, mas antes como "one of the guys", embora à medida que fomos crescendo isso foi alterando. Lembro-me também que quando chegava a primavera era ver-nos a correr rua abaixo, rua acima, com as caricas, os berlindes, os carrinhos de rolamentos, os jogos da bola, do ringue, e a minha bisavó sempre atenta sentada nos degraus da entrada da porta acompanhada das avós dos outros meninos, o que impedia que ali tocássemos às campaínhas.
No ano passado fiz o mesmo com o Xani, e houve até pais que se nos juntaram, transformando a nossa praceta num pequeno grande jardim de infância ao ar livre.

Missanguita disse...

Ermesinde? E havia miudas giras? :)

Dudaninha disse...

Na minha praceta ficava-se na boa até à 1 da manhã, em jogos de polícias e ladrões, corridas de bicicleta, jogos de bola, ou simplesmente sentados nos baloiços que em tempos por lá existiram.

Ana Camarra disse...

Todos temos um Toní...
Ainda bem!

beijos

Nagareboshi disse...

eu ainda tive a sorte de ter a minha rua e o meu grupo de brincadeiras, e de tocar ás campainhas sem vídeo porteiro e de fazer corridas de bicicletas contra os rapazes e de sentir que não havia nada de mais importante a concretizar sem ser ganhar. tenho tantas saudades de roubar fruta e fazer piqueniques de fruta com os meus amigos depois do saque...que saudades! nós já éramos so tempo dos videojogos e até tive uma consola de jogos mas acho que lhe peguei três vezes e esqueci, ainda a tenho já pensei em deita-la fora pois não tem significado nenhum para mim, antes preferia ter guardo a minha bicicleta verde já muito remendada, a bola de basquetebol passada entre gerações de rapazes da minha família que o meu irmão me emprestava de vez enquanto a colecção de bolas saltitonas com as raridades de que tanto me orgulhava, e a corda de saltar cor-de-rosa. As crianças de hoje perturbam-me bastante, as vezes parece que já não possuem aquela inocência que nós tínhamos, não fazem as malandrices inocentes que nos fazíamos e que os adultos adoravam secretamente, tem medo de minhocas bichos de conta e de lagartixas são obcecadas com as aparências têm muita pressa de crescer principalmente as raparigas, tem muita pressa em ser mulheres...eu não entendo, eu era maria rapaz brinquei a todas as brincadeiras de rapazes e isso não me afectou em nada, nem a mim nem ás minhas amigas, somos todas mulheres normalíssimas nenhuma de nós é uma mulher macho e todas gostamos de rapazes por isso não tenham medo de brincar na lama de fazer corridas de bicicletas e de lutar com rapazes enquanto são mais fortes que eles :P, era isso que diria a todas as raparigas pré adolescentes e mais novas que hoje se preocupam tanto com o tamanho de sutiã que vestem e com a cor de batom que lhes fica melhor eu não digo que não sejam preocupações válidas mas todas as idades têm características próprias e estas duas não se encaixam em faixas etárias inferiores aos 14 anos.
O mais curioso é que hoje percebo que a vida que levávamos naquela idade influenciou TANTO os adultos que somos hoje, é estranho mas eu e as minhas duas amigas de infância que comigo azucrinavam a mente dos rapazes da rua ao ganhar todas as corridas de bicicleta, seguimos o mesmo caminho sem sabermos, todas nós desde pequenas que tínhamos uma relação saudável com a natureza pois a nossa rua acabava numa mata, e nós crescemos a brincar com sapos, osgas, Marias café, gatos, cães e plantas em geral, e á pouco tempo soube que estamos todas em biologia, não é estranho?! ao ver como a infância influencia a idade adulta as crianças de hoje preocupam-me bastante, acho que vamos ter dentro de algumas décadas adultos muito mimados, socialmente inadequados com muitos problemas existenciais, e isso vai sem duvida ter repercussões ao nível das relações humanas...pode ser que não, esperemos que não.

a boa noticia é que em alguns países do norte da Europa já andam a tentar recriar o ambiente da "minha rua", fechando ao transito e vigiando algumas ruas, mas são ainda tão poucas que não se sente o impacto.
a má noticia é que em Portugal ainda temos muito que fazer nesse sentido.

leitanita disse...

... a minha rua, era o meu pátio. 8 casas, com um pátio típico. Éramos 5 com uma diferença de 4 anos entre nós, e mais uns 4 ou 5 das vivendas á volta.
Saudades de muita coisa mas sobretudo do verão! O lego gigantesco que durante o verão todo estava no pátio e todos íamos construímos e destruíamos sem nunca arrumar as peças, em que se dormia de janela aberta e se ouvia o ressonar do vizinho da frente. No dia seguinte o que nós gozávamos com os roncos dos pais uns dos outros!

Ed disse...

Tchiiii. Do que te foste lembrar!
Nos anos 80, era "lugar contra lugar"...
E não havia jogo sem pancada no final, mas o maior medo, era a mão do pai.
Não eram os carros, as motos, os ladrões... era sair de casa sem avisar (porque senão não saíamos, uma vez que a malta do sítio era da "pesada").