quinta-feira, 7 de maio de 2009

ISSO É AMOR, E DESSE AMOR SE MORRE...








Se se morre de amor! — Não, não se morre,
Quando é fascínio que nos surpreende
De ruidoso sarau entre festejos;
Quando luzes, calor, orquestra e flores
Assomos de prazer nos raiam n’alma,
Que embelezada e solta em tal ambiente
No que ouve, e no que vê prazer alcança!
Simpáticas feições, cintura breve,
Graciosa postura, porte airoso,
Uma fita, uma flor entre os cabelos,
Um quê mal definido, acaso podem
Num engano d’amor arrebatar-nos.
Mas isso amor não é; isso é delírio,
Devaneio, ilusão, que se esvaece
Ao som final da orquestra, ao derradeiro
Clarão, que as luzes no morrer despedem:
Se outro nome lhe dão, se amor o chamam,
D’amor igual ninguém sucumbe à perda.
Amor é vida; é ter constantemente
Alma, sentidos, coração — abertos
Ao grande, ao belo; é ser capaz d’extremos,
D’altas virtudes, é capaz de crimes!
Compr’ender o infinito, a imensidade,
E a natureza e Deus; gostar dos campos,
D’aves, flores, murmúrios solitários;
Buscar tristeza, a soledade, o ermo,
E ter o coração em riso e festa;
E à branda festa, ao riso da nossa alma
Fontes de pranto intercalar sem custo;
Conhecer o prazer e a desventura
No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto
O ditoso, o misérrimo dos entes:
Isso é amor, e desse amor se morre!
Amar, e não saber, não ter coragem
Para dizer que amor que em nós sentimos;
Temer qu’olhos profanos nos devassem
O templo, onde a melhor porção da vida
Se concentra; onde avaros recatamos
Essa fonte de amor, esses tesouros
Inesgotáveis, d’ilusões floridas;
Sentir, sem que se veja, a quem se adora.
Compr’ender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos,
E, temendo roçar os seus vestidos,
Arder por afogá-la em mil abraços:
Isso é amor, e desse amor se morre!
Se tal paixão enfim transborda,
Se tem na terra o galardão devido
Em recíproco afeto; e unidas, uma,
Dois seres, duas vidas se procuram,
Entendem-se, confundem-se e penetram
Juntas — em puro céu d’êxtasis puros:
Se logo a mão do fado as torna estranhas,
Se os duplica e separa, quando unidos
A mesma vida circulava em ambos;
Que será do que fica, e do que longe
Serve às borrascas de ludíbrio e escárnio?
Pode o raio num píncaro caindo,
Torná-lo dois, e o mar correr entre ambos;
Pode rachar o tronco levantado
E dois cimos depois verem-se erguidos,
Sinais mostrando da aliança antiga;
Dois corações porém, que juntos batem,
Que juntos vivem, — se os separam, morrem;
Ou se entre o próprio estrago inda vegetam,
Se aparência de vida, em mal, conservam,
Ânsias cruas resumem do proscrito,
Que busca achar no berço a sepultura!
Esse, que sobrevive à própria ruína,
Ao seu viver do coração, — às gratas
Ilusões, quando em leito solitário,
Entre as sombras da noite, em larga insónia,
Devaneiando, a futurar venturas,
Mostra-se e brinca a apetecida imagem;
Esse, que à dor tamanha não sucumbe,
Inveja a quem na sepultura encontra
Dos males seus o desejado termo!

poema : gonçalves dias

19 comentários:

Ianita disse...

Só se morre de amor no cinema e na literatura e ainda bem :)

As fotos são muito bonitas... muito sugestivas ;)

Kisses

pinxexa disse...

Sem palavras como de costume...
beijinho

Larose disse...

.... o meu colega diz que com estas imagens ...não precisava de poema!

pinxexa disse...

Paulo, tenho para mim que algumas destas fotos podem ajudar o Saddek a perceber como usar a tal recto-escavadora!
ehehehehehehe
beijo

Paula disse...

bem...estas fotografias são demasiado sugestivas que nem precisavam de mais nada!

AnonimaLX disse...

Estou eu aqui com a minha amiga na conversa.
Tu com estas fotos que pretendes?
Acho-te um "predador" disfarçado...
Aqui para nos.... é isso não é?

cantinhodacasa disse...

Paulo, então és um predador disfarçado????
Rio-me com este comentário.
Gostei das fotos . O poema é lindo, mas as fotos são suficientes para porem o nosso corpo e a mente a delirar.
Beijinho

K disse...

Ai que vontade que essas fotos me deram! Ai! Ai que já não tenho mais palavras. Ai!

(a do predador está de morte! ahahahahahahahahahah)

Paulo Lontro disse...

iani,

talvez só se morra no cinema mas no cinema não doi e na vida real não é bem assim...

Paulo Lontro disse...

pinxe,

:) está bem... sem palavras.

;)

Paulo Lontro disse...

Larose,

e só com o poema será que o teu colega dispensava as imagens...?
;)

Paulo Lontro disse...

pinxe,

Acho que o Saddek acaba por dar conta do recado sozinho... mas põe a hipótese de ele nos estar a dar uma grande tanga... divertido o post dele.
;)

Paulo Lontro disse...

Paula,

Acredita que as fotos nunca são demasiado sugestivas...
Eu tento contar uma história em duas linguagens diferentes e aceito que as imagens tenham apenas mais impacto...
:)

Paulo Lontro disse...

AnónimaLX,

lol...lol...
Os dois comentários seguintes ao teu (ao vosso) feito por pessoas que me conhecem dizem tudo…
Sim sou um predador terrível… dos que já há poucos! Sou um homem irresistível… Rs rs rs rs

“Tu com estas fotos que pretendes?”
Respondo que pretendo o que todos pretendem e muitos não conseguem, contar um história sem mau gosto e com imagens bonitas, sedutoras e que dêem um brilhozinho nos olhos de que aqui vem.

Gostei de te (vos) ter por aqui, sê muito bem-vinda e aparece mais vezes.

Paulo Lontro disse...

E eu que nunca quis mostrar-te essa minha faceta predadora...!!! lol...

Este poema lido com calma é fantástico.
Li um artigo onde o poema era comentado e escalpelizado, entendi-o bem e ficou-me na memória desde logo.

Paulo Lontro disse...

K,

Eu também ainda me rio desta do predador mas tenho a certeza que foi escrito com humor e bem intencionado.

Oh mulher estão a dar-te os calores...?
Queres que te arranje o termóstato?
Sempre às tuas ordens... lol lol...

Aqui é que o gelado se (te) derreteria...lol

:)

Patrícia disse...

Pelo menos uma parte da alma pode morrer por amor. Digo eu... Como diria o Antony (and the Johnsons), ela cresce de novo (será?) como uma estrela do mar.


P.S.: as fotografias conseguem pôr o dedo na ferida de quem está moribundo...

Paulo Lontro disse...

Patricia,

Acho que concordo com esse antony.

Quanto às fotos... metem o dedo nos moribundos e nos que têm a saúde toda.

Patrícia disse...

Referia-me aos que morrem desse tal amor. ;)